sexta-feira, 18 de março de 2011

Incomodados acomodados, nunca!

            Vou contar aqui um pouquinho das percepções que as vezes me rodeiam, incendeiam e faz vibrar o coração em situações do cotidiano, e por isso tão simples, no entanto, quando sentimos e refletimos por uma outra perspectiva, ativa o que há de melhor em nós: a sensibilidade de sermos humanos.
            Logo após as aulas, eu e algumas amigas fomos para o RU almoçar, para depois participarmos do I Simpósio de Letras - no auditório Paulo Mendes - no ILC. Bem, por um instante, lembrei que tinha que me dirigir para o Hospital Universitário Bettina Ferro, para pegar um exame para meu sobrinho. Eu tinha que ter feito isso três dias antes, mas a minha cabeça de vento não me deixou lembrar. O curioso é que lembrei somente no dia do simpósio, para minha desgraça. Tinha tudo para ser uma tarde agradável na companhia de amigos e escutando os professores falando sobre seus trabalhos de pesquisa em literatura. Seria uma tarde intelectual. Seria! Se eu tivesse pegado o maldito exame há três dias.
            Depois de pegar aquele ônibus que a UFPA disponibiliza para alunos e pacientes que se dirigem ao hospital, algo do tipo secular, esteticamente e historicamente horroroso, que nada tem de sublime, lá vou eu para o Bettina. Exatamente as 13:20 cheguei ao local e ao procurar a recepção ao invés de pessoa, atendente, encontrei um papel colado ao vidro com a seguinte frase: "aguarde estou no almoço e volto às 13:20". Já estava no horário, mas tudo bem, quem nunca se atrasou que atire a primeira pedra. Sentei lá no rabo de uma fila bem grande, parecia uma menina de 12 anos ao lado de senhores de 50, 80, 100, e acho que até de 200 anos tinha ali, quase mumificados esperando a pública funcionária que deveria está engasgada com algum pedaço de carne ou algum pedaço de nervo du...bem, é melhor não comentar. As 14 h começava o simpósio de Letras, e já eram 14:30 e nada da mulher chegar.
           Nessa altura já escutava uns bum zum zum dos pacientes a reclamarem que estavam ali desde onze e meia para serem atendidos cedo, mas já era quase três da tarde e a maioria não tinha almoçado, não tinha recebido seus exames e alguns ainda estavam por fazer o raio-x, e a funcionária continuava no outro raio - no que o parta! No final do corredor lá vem uma senhora com deficiência, amparada de um lado por uma muleta e do outro por seu marido. Era um corredor bem estreito e por estarem lado a lado praticamente não sobrava espaço para outro transeunte, para um transeunte Não, mas para um funcionário mula sem cabeça Sim. Ele vinha atrás da mulher com a maior pressa do mundo e ainda teve a delicadeza indelicada de pedi licença para um ser que não podia se deslocar daquela direção, pois creia que a anta-paca do funcionário passou com tudo e fez a senhora cambalear, fiquei furiosa, quem não ficaria, perguntei para o cavalo - me desculpem os animais pela ofensa - "olha o que você fez, quase derrubaste a senhora com a tua pressa ignorante", não obtive resposta, a senhora também não escutou um pedido de desculpa, quase mando ele para aquele lugar, mas falei que se ele estava com tanta pressa seria melhor que adentrasse a tela do SBT e se transformasse em papa-léguas. Mal educado! 
           Conversei com duas senhoras e decidimos ir até a diretoria para reclamarmos da situação e para que eles providenciassem outra pessoa para nos atender. A diretoria disse que estávamos com toda razão (essa é a frase de quem não resolve nada) e nos mandou para a ouvidoria do hospital, não sabia que tinha ouvidoria naquele lugar, enfim, lá sim eles resolveram e mandaram outra pessoa para nos atender. Já eram quase quatro horas. Na fila que se formou uma senhora a minha frente falou que o funcionário público veio para atrapalhar a vida do pobre, trabalha a hora que quer e quando quer. Bem, de certa forma, ela não deixa de ter razão, não é? Principalmente quando se trata de saúde pública.
            Um senhor que quase não podia andar, de passos muito lentos, de óculos escuros, estava muito atrás de mim e ninguém se importou com isso. Peguei sua mão e o levei para ser atendido primeiro que muitos que não tinham direito a prioridade, como eu. Aiii se alguém tivesse falado alguma coisa, acho que nunca senti tanta raiva assim. Tratar as pessoas dessa forma não é justificável em nenhuma situação, muito menos ainda no contexto em que estávamos (um hospital universitário), considerado referência em ciência e atendimento, no Pará. Que mau uso fazem daquele quadro, lá na parede, com a foto da Bettina Ferro de Souza a revirar seus ossos no túmulo toda vez que não prezam pelas pessoas que necessitam de atendimento "humano".
          Saí de lá e a funcionária não tinha chegado. Muitos idosos voltaram sem serem consultados, pois marcaram suas consultas cinco dias antes, entretanto, quando chegaram lá, o médico estava de férias, se estava de férias porque marcaram a consuuuulta meu Deus, santa ignorância. Tolerância zero! Veja só o que a ausência de um único funcinário ocasiona. Que sistema desgraçado esse, não!? Será que "o sistema" se automatizou a fazer, ou melhorar as coisas só quando alguém denúncia ou faz barraco. Pois EU FAÇO!!!